No centro histórico de Cartagena das Índias, na Colômbia, não há parede que escape a um qualquer tom vivo de arco-íris. Mas há um bairro que abusa dessa paleta de cores e que consegue elevar a vibe artística desta cidade a outro nível: o bairro de Getsemani.
Um bairro feito de cores vivas e muita música
Diria que é impossível percorrer as ruas do bairro de Getsemani em Cartagena das Índias sem nos sentirmos mais alegres. As paredes dos edifícios baixos deste bairro mantêm os tons amarelos, azuis, verdes, laranjas dos restantes bairros da cidade, a adicionar aos inesperados graffitis que aparecem a cada esquina e que refletem os mais variados temas, dos mais inspiradores aos mais intervencionistas.
As portas das casas estão abertas aproximando-nos dos getsemanicenses. À tarde o ambiente é calmo, desviamo-nos de meia dúzia de táxis ou bicicletas, escolhemos o lado da sombra para evitar o calor tórrido desta Colômbia e fotografamos cada detalhe encantador.
À noite, o caso muda de figura e a animação sai à rua! Há música em cada quelho, por vezes várias que se sobrepõem, cada uma mais alta que a outra. Há vendedores ambulantes e muito por onde escolher: cachorros, limonadas, arepas, chapéus, águas, cervejas, pulseiras, … Comida, bebida e diversão não faltam. E para apimentar ainda mais, há as performances de rua que nos deixaram de boca aberta.
Há os que cantam e que encantam, os que desafinam só, os que dançam, os que tocam e depois há os que partem tudo: os breakdancers. Mesmo em ruas estreitas como a Callejón Ancho eles não se acanham. Pedem gentilmente para lhes ser dado espaço e aí exibem sem vergonhas as suas artes. Getsemani é um espetáculo ao ar livre… e o bilhete é grátis!
O que pode acontecer é perderes a cabeça nos cocktails que por ali são uma pechincha. Mojitos, caipirinhas ou piña coladas por 12 mil pesos, o equivalente a 2,40€? Venham aos dois de cada vez! Puxa uma cadeirinha ou então atreve-te como os locais a dar um pezinho de dança mesmo ali, no meio da rua.
Dica Mais pra Lá...
Ao domingo e à segunda-feira, os bares encerram à meia-noite; de terça a quinta fecham à uma da manhã; à sexta e ao sábado estendem-se até às 3 da manhã. Esta informação poderá variar, porém quando lá estivemos os bares da rua Callejón Ancho não abriam às terças-feiras.
O caráter próprio de Getsemani
Numa dessas tardes por Getsemani, um vendedor de plátanos derrete-me o coração com a deixa no seu tom mais amável “Dos mil pesitos, mi amor, para ti”, e nem se quer é a mim que se dirige. É à senhora que da porta de sua casa – aberta porque as portas por aqui estão sempre abertas – amavelmente lhe pergunta quanto custam os frutos para os patacones do almoço. No geral, os colombianos são assim, muito queridos, mas em Getsemani ainda mais.
Há uma aura muito própria de sabor a bairro, muito aconchegante, que nos dá aquela sensação de casa mesmo longe dela.
São os próprios habitantes do bairro que decoram as ruas, como forma de expressão, mas também como forma de atrair visitantes que, se por ali permanecerem, por ali deixarão os seus pesos e assim apoiar os negócios familiares. Por isso, é muito comum ver-se algum artista local a trabalhar no seu graffiti ou então algum morador de trincha em punho a dar mais cor à sua casa.
Achamos curioso até que, nas ruas e paredes mais caprichadas, existe uma caixinha a apelar à gorjeta para que os transeuntes possam livremente contribuir para o futuro da arte do bairro.
Getsemani, esse bairro com alma de viejo y cuerpo de muchacho, tem um caráter tão especial que até tem uma publicação – em papel e digital – lançada todos os meses com temas do bairro, das suas histórias, ruas, gentes, tradições. É o El Getsemanicense (elgetsemanicense.com) e conserva as memórias deste bairro especial.
Os Getsemanicenses: de escravos a revolucionários
É neste ambiente e nestas paredes que Getsemani conta a sua história, uma história de força e resistência. A esta zona de Cartagena das Índias foram parar os escravos vindos de África na época colonial. Emancipando-se ao longo dos séculos seguintes através de ofícios como o artesanato, esta população negra acabou por ocupar um lugar importante na hierarquia do bairro até integrarem a milícia Lanceiros de Getsemani e impulsionarem assim o grito da Independência de Cartagena das Índias de 11 de novembro de 1811.
Queres saber mais sobre a história de Cartagena das Índias? Contamos-te mais no artigo Cartagena das Índias, Colômbia: a entrada para o caribe colorido, onde partilhamos também a nossa visita a esta cidade e as nossas dicas.
Porém, muito caminho ainda faltava desde aí até ao bom ambiente que se vive hoje em Getsemani. Ainda no século passado, Getsemani era o bairro mais pobre de Cartagena das Índias, onde o tráfico de droga e a prostituição eram recorrentes. A transformação começou quando o atribulado Mercado de Getsemani foi transferido para o bairro de Bazurto. A partir daí o bairro tem vindo a sofrer um processo de gentrificação que, se por um lado, traz alguma paz aos habitantes locais, por outro lado lhes traz preocupação em relação ao futuro das tradições bairristas de Getsemani.
Curiosidade...
Descobrimos também que o nome Getsemani tem um significado bíblico muito forte que nos parece ter batido certo com a história austera do local: segundo a bíblia, Getsemani é um estado de crise e um lugar de sentimentos de agonia e tristeza. Cá para nós, com a animação que por lá se vive hoje, já merecia um nome mais alegre!
Recente arte urbana de Cartagena das Índias
Os graffitis que marcam as ruas de Getsemani fazem parte de uma história mais recente com origem no primeiro Festival Internacional de Arte Urbana da Colômbia que em 2013 teve lugar em Getsemani. Com o intuito de comunicar mensagens acerca da realidade da comunidade do bairro e das suas preocupações, iniciaram-se neste evento as primeiras tatuagens de Getsemani pelas mãos de 50 artistas locais, nacionais e internacionais.
Muitas delas ainda se mantêm e foram já admiradas por milhares de visitantes que agora vêm na street art mais um motivo para visitar esta zona de Cartagena das Índias. Apesar da existência de regras bem claras para a elaboração de graffitis em prol da coerência e da pertinência nas mensagens trabalhadas, às obras de 2013 foram-se adicionando outras.
Existem também Free Walking Tours dedicadas à street art de Getsemani. Nós não fizemos pois, ao invés, deixámo-nos simplesmente perder pelas calles mais e menos coloridas de Getsemani e assim encontrando ao acaso estas obras de arte.
As nossas dicas para visitares o Bairro de Getsemani em Cartagena das Índias na Colômbia
- Não percas a Plaza de la Trinidad marcada pela Igreja da Santíssima Trindade, cujo adro ganha uma outra vida todas as noites. Passa por lá depois do por do sol e arrisca-te a petiscar algo. Provámos as picadas de patacones, besuntamo-nos daquela gordice e não, não ficámos mal da barriga. A Plaza del Pozo é mais calma e mais aprazível se a tua onde for tomar um copo mais descansado.
- Se queres aprender ou praticar o teu passinho de dança, muitos hostels oferecem aulas (gratuitas ou a preços bem acessíveis) principalmente de salsa mas também de outros estilos. Basta estares atento ou fazeres uma pesquisa. A Ana fez uma dessas aulas e o professor sugeriu que fossemos praticar para o Café Havana (que cobra entrada) ou para o bar Calle Adentro (entrada gratuita). Também nos foi recomendado o Donde Fidel Salsa Club que fica dentro da Cidade Muralhada de Cartagena das Índias.
- Foi em Getsemani que nos alojámos, primeiro no Santuario Getsemani Hostel e depois no Casa Zahri Boutique Hostel. Destes dois, recomendamos mais o segundo: é mais tranquilo, o pequeno-almoço é melhor e tem piscina para refrescar nas horas de maior calor.
- Tínhamos considerado em visitar o Mercado de Bazurto. Porém, depois de questionarmos alguns habitantes locais acerca do mesmo, recomendaram-nos a não o visitar, dizendo-nos que é uma zona muito decadente e perigosa, pelo que decidimos seguir o conselho.
- Deliciámo-nos com as arepas do Colombitalia na Carrera 10 de Getsemani!
- Se procuras um restaurante local com boa comida e bons preços, experimenta o Vive Restaurante na mesma rua das arepas.
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