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Trilho do Vale do Paul, da cratera vulcânica ao vale fértil de Santo Antão

Vista sobre a Cratera da Cova, com os campos e as montanhas verdes do Vale do Paul

Santo Antão é a segunda maior ilha de Cabo Verde e é considerada por muitos como a mais bonita e a mais indicada para os amantes de caminhadas e trilhos na natureza. Na estadia de 4 dias nesta ilha de vales verdejantes, montanhas imponentes e Costa Atlântica recortada, fiz três trilhos.

O Trilho do Vale do Paul foi o segundo e talvez o mais exigente para mim (já tinha feito o Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha que muito recomendo, e fiz depois também o Trilho do Xôxô). Foram cerca de 15km percorridos em 6 horas, com tempo para paragens para observar, fotografar e ir descansando.

Neste artigo partilho dicas para fazer o Trilho do Vale do Paul, na Ilha de Santo Antão em Cabo Verde, assim como a minha experiência ao longo deste percurso que, embora árduo, aconselho vivamente!

Pessoa em trilho com o Vale do Paul, em Santo Antão, ao fundo.
Palmeiras e campos de cana-de-açúcar, com montanhas ao fundo

Onde e como iniciar o Trilho do Vale do Paul em Santo Antão

O Trilho do Vale do Paul é um percurso linear com cerca de 1000 metros de desnível acumulado. Significa que pode ser iniciado numa das extremidades do trilho, na vila do Paul, ou na extremidade oposta, em Cova. 

Começar no Paul implica subir grande parte do percurso de forma muito íngreme até à Cratera, no topo. Ao invés, começar na Cratera da Cova implica o mesmo desnível acentuado mas a descer. 

Para mim a escolha foi óbvia porque prefiro descer do que subir, por isso caminhei no sentido Cova – Paul. Mas para quem prefere as subidas, pode optar por fazer o inverso.

Para chegar até Cova e iniciar o Trilho do Vale do Paul a partir daí, há apenas um coletivo que sai da farmácia de Ribeira Grande, às 11h, com o Sr. João Aniceto. Nós chegamos às 9h30m e havia mais quatro pessoas à espera para ir para Cova, então o Sr. João ofereceu levar-nos por 500 escudos por pessoa em vez dos normais 300 escudos (aprox. 2,70€)  para não termos de esperar pelas 11h.

De Ribeira Grande foi sempre a subir até Cova. Mais de 1km de altitude em 20km de caminho. Ainda nem tinha começado a caminhar e já estava deliciada com as paisagens amplas e vertiginosas deste trajeto de cerca de 45 minutos. A certa altura até atravessamos as nuvens e vi os picos das montanhas a espreitar ao sol sobre o manto branco que cobria as terras lá em baixo.

Pessoa no miiradouro da Cratera da Cova a observar a paisagem agrícola
Campos agrícolas na Cratera da Cova em Santo Antão

Atravessar a Cratera da Cova

Antes de pôr os pés ao caminho, detive-me no miradouro com vista para a cratera deste vulcão extinto – o Miradouro da Cratera da Cova. Daí vê-se em perfeição a fertilidade da terra nos quadrados e retângulos agrícolas bem desenhados em vários tons de verde. Lá de cima não parecia ter vivalma mas à medida que desci, fui distinguindo os sons dos agricultores atarefados e dos animais em pastorícia. Alguns nem os via, camuflados no meio do milho e da cana de açúcar agora florida. A outros distinguiam-se as roupas coloridas, únicos tons contrastantes no meio da natureza verde.

Batata-doce, cenoura, inhame, mandioca, cana de açúcar, milho, couve, cenoura, feijão, goiaba e abacate são algumas das colheitas que a minha mãe foi identificando e que por vezes parava curiosa para confirmar com os agricultores de que seriam as plantações que ia vendo.

Descida da Cratera da Cova
Vaca a pastar em campos com montanhas ao fundo
Caminho no interior da Cratera da Cova

duas opções de caminho para atravessar a cratera: uma mais longa e mais plana (pelo lado direito para quem está de frente para a cratera no miradouro) e outra mais curta mas com mais declive (pelo lado esquerdo). Fiz a segunda e não achei nada difícil.

A descida até ao fundo da cratera é suave, apenas é preciso ter cuidado com o terreno em pedra solta. Depois vem a subida, de pouca inclinação também, entre escadas e caminhos rodeados de cultivo.

Vista sobre as montanhas verdes do Vale do Paul em Santo Antão, Cabo Verde

Uma vista estonteante sobre o Vale do Paul

Chegada ao lado de lá da cratera, fui presenteada com a melhor parte do dia: a grandiosa vista sobre o Vale do Paul! Aqui reconfirmei que foi exatamente por isto que vim a Cabo Verde: as paisagens, a natureza, a montanha. Realmente impressionante!

A 1200 metros de altitude, observei a amplitude do vale que me separava do mar, lá ao fundo no Paul. Até parecia perto. “É já ali” – disse o meu eu inocente antes de o olhar me cair no ziguezague da descida tenebrosa que me aguardava. Parecia infinita!

Pessoa a caminhar no trilho do Vale do Paul, com montanhas e nuvens ao fundo
Vista ampla sobre o Vale do Paul com o mar ao fundo

Nunca consegui entender as pessoas que diziam que descer é pior do que subir, até ter feito a descida do Trilho do Vale do Paul. Ainda assim, ao cruzar-me com os escassos caminhantes que iam no sentido contrário ao meu, agradeci a opção que tomei. Enfim, venha o diabo e escolha!

O ziguezague a pique continuou por aquela parede abaixo até Chã de Manuel dos Santos. Foi aí que paramos a repor energias com as sandes que levamos para almoço por precaução, pois não sabia se haveria onde comer ao longo do Trilho do Vale do Paul. Percebi entretanto mais à frente que há alguns estabelecimentos a partir de Chã de João Vaz.

Um pouco adiante, paramos então no Curral para tomar um café e dar algum descanso às solas.

Sandes pelo caminho do Trilho do Vale do Paul
Café e Gelado
Pessoas no Café Curral

De Chã de João Vaz à Ribeira da Passagem

A partir daí o desnível é menor, embora nunca dê tréguas até ao final, no Paul, também conhecido como Cidade das Pombas.

400 metros depois do Lombinho há um cruzamento à direita que nos dá duas opções de caminho, as quais se voltam a unir 2km depois. Olhando o mapa, sendo que as duas têm a mesma distância, a diferença está no desnível: a que continua pela estrada vai descendo de forma mais suave, enquanto que a que corta à direita desce e sobe de forma mais acentuada.  

Optei pela segunda, induzida por um par de caminhantes que vi lá embaixo. Segui-os até à Ribeira da Passagem onde aparentemente se banharam pois estavam já a secar-se pós-mergulho quando os alcançamos. As águas refrescantes saberiam bem certamente mas não fui prevenida para banhos. Aí ao lado há o Restaurante Kerolly (inserido na antiga estância turística da Passagem) onde servem refeições. Se voltar a fazer o Trilho do Vale do Paul é aqui que vou parar para almoçar e refrescar-me no ribeiro.

Ribeira da Passagem com a água a correr no meio da natureza
Rapazes a caminhar na estrada enquadrada na natureza de Cabo Verde

Entrei para perguntar onde haveria uma destilaria de grogue para visitar no restante caminho até ao Paul. Quando demos “boa tarde” à rapariga sentada na esplanada percebemos que era portuguesa pelo sotaque da resposta . Encetamos uma conversa e ela demonstrou-se profundamente feliz por nos ver ali pois estava a fazer voluntariado em Santo Antão e era a primeira vez que via portugueses a fazer caminhadas pela ilha. Concordamos que, de facto, viramos poucos lusos até então. Falou-nos da sua paixão por este país insular e das várias vezes que por cá já havia estado como voluntária.

Indicação trilho correto em parede de pedra
Pessoa de costas a descer trilho do Vale do Paul

Continuamos e daí até ao Hotel Aldeia Manga e à Casa das Ilhas é sempre a subir… já sem saber o que doía mais, disse mal da inclinação e voltei a dizer mal da que se seguiu, desta feita a descer até à estrada que dá a Boca de Figueiral. Esta terra é um autêntico sobe-e-desce!

Visita a uma destilaria de grogue nos últimos quilómetros

De volta à estrada senti-me tentada a apanhar o coletivo até ao Paul. Mas mantive-me firme na caminhada e segui os 2 quilómetros finais a pé. Foi uma boa decisão pois pouco mais adiante encontrei a destilaria de grogue Beth d’Kinha onde pude ver um alambique antigo e um novo, e pude provar licor de manga e de maracujá.

Sabias que...

A ilha de Santo Antão é particularmente conhecida pela destilação e produção de grogue, uma aguardente tradicional de Cabo Verde, feita a partir da cana-de-açúcar. Vale a pena visitar uma destilaria de grogue em Santo Antão, aprender sobre este produto local e quem sabe ver um trapiche – um pequeno engenho utilizado para moer cana-de-açúcar.

Porém, estávamos em novembro e a altura da colheita, moagem, fermentação, destilação e engarrafamento do grogue ocorre nos primeiros meses do ano, entre janeiro e maio. Por isso a destilaria não estava em funcionamento, estava aberta apenas para prova e venda dos seus produtos.

Com ânimo renovado por esta paragem inesperada, segui caminho até à Cidade das Pombas onde, à chegada, uma cerveja Kriola foi mais que merecida no Restaurante Veleiro II, junto ao mar.

Alambique antigo com paisagem do Vale do Paul ao fundo
Paisagem para o Vale do Paul com montanhas ao fundo e uma casa vermelha
Caminho final do Trilho do Vale do Paul com flor da cana de açúcar

Dicas para o trilho da Ponta do Sol à Cruzinha

  • Usar um bom calçado próprio para caminhada e para um terreno irregular e acidentado;
  • Levar água e alguns snacks (barras energéticas, fruta, frutos secos);
  • Se gostas de mergulhar, leva roupa de banho e faz o desvio para te refrescares na Ribeira da Passagem;
  • Para uma viagem com atividades deste tipo, recomendo fazer um seguro de viagem. Eu fiz o IATI Básico para a totalidade da viagem em Cabo Verde. Felizmente não tive de o usar, mas nunca se sabe! Ao utilizares este link tens 5% de desconto no teu seguro de viagem.

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