Descobrir o nordeste da Ilha de Santo Antão em Cabo Verde a pé, através dos seus numerosos trilhos, é mergulhar num cenário de natureza arrebatadora onde o verde é o constante pano de fundo. Esta é a segunda maior ilha de Cabo Verde e um tesouro para os amantes das caminhadas.
O Trilho do Xoxô à Cascata da Vinha foi o terceiro percurso que fiz em Santo Antão (a seguir ao Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha e o Trilho do Vale do Paul). A informação existente acerca do mesmo era escassa mas, pelo que pude apurar, seria um trilho mais curto do que os restantes e isso pareceu-me bem depois dos outros dois trilhos mais longos e de maior dificuldade.
Início do Trilho no Xoxô
Como estava alojada no Paul, apanhei um coletivo para a Ribeira Grande, de onde sabia que saíam outros coletivos, em frente à farmácia, para o Xoxô. Chegada à Ribeira Grande, notei que havia menos carrinhas do que o habitual dos dias anteriores. Era domingo e nenhuma das poucas aí estacionadas ia para o Xoxô. Depois de algum tempo à espera, parou uma pick up privada que ofereceu por 500 escudos a boleia para os 6 km que me separavam da aldeia do Xoxô. Aceitei sem demora e subi para os bancos traseiros.
Foi quando saltei do pequeno camião, vi que estava no final da estrada, que o Xoxô se resumia a meia dúzia de casas e que estava rodeada de montanha, que pensei “Ora bem, e agora?”. Apenas sabia que havia uma cascata a não perder (e até fui prevenida para o eventual mergulho!) e sabia que havia de descer do Xoxô à Ribeira Grande a pé… crendo a esta altura que seriam só 6 km.
Perguntei a um transeunte para onde era a cascata ao que me apontou para cima, para o monte. Olhei o mapa e não parecia longe… mas, para variar, a aplicação Maps.me não era exata, não indicando nem a distância, nem o declive. Percebi mais tarde o porquê: o trilho ia até pelo meio dos privados campos de cana de açúcar, literalmente. No mapa era um caminho tracejado, seja lá o que isso signifique.
Optei por seguir dois caminhantes que entretanto apareceram e que, ao contrário de mim, pareciam saber para onde iam.
Dica importante!
O Google Maps tem muito pouca informação nesta zona, nem sequer tem o trilho marcado. Eu utilizei a aplicação Maps.me para me orientar. É importante ir seguindo exatamente o trilho marcado no Maps.me pois algumas vezes segue por sítios que não se parecem em nada com um trilho e isso pode induzir em erro.
Do Xoxô à Cascata da Vinha
Da aldeia do Xoxô até à Cascata da Vinha, passando pelo Lombo do Pico, foi sempre a subir ora por escadas entre os campos, ora por estreitos caminhos ladeiras acima. Na maior parte deste trajeto, a vegetação alta impedia-me de apreciar a paisagem… mas lá no topo do Lombo do Pico desafogou-se a vista e, entre a respiração ofegante, pude soltar suspiros de admiração por aquilo com que o Xoxô me presenteava. Uma paisagem de inúmeros tons de verde intercalados com o rosa das canas de açúcar em flor e com as coloridas mas escassas casas da aldeia do Xoxô.
Os primeiros 700 metros da caminhada, além de desprovidos de sombra, tiveram um ganho de elevação de 160 metros (quase 23% de inclinação) o que justifica o nome de Lombo do Pico dado a este lugar.
Seguia-se uma subida acentuada para a esquerda – o caminho para a cascata, e uma descida à direita – para seguir para a Vinha. Claro que fiz o desvio para ir à prometida Cascata da Vinha! Em cima de uma levada, é um caminho muito estreito, que literalmente circunda a rocha montanhosa e em certos lugares até temos de nos agachar para passar por baixo da parede montanhosa. É a parte mais radical e alucinante do percurso, mas atenção: é preciso caminhar com muito cuidado pois o penhasco é fundo e pode ser perigoso.
A cascata é realmente alta e a água jorra continuamente com força caindo num pequeno lago no fundo que desaparece montanha abaixo. Há-de ir saciar a sede da densa vegetação de Santo Antão. Algumas pessoas aproveitam para mergulhar e se refrescar, mas é preciso também ser prudente, pois o acesso não é fácil e não há qualquer infraestrutura de suporte.
Ao som da Cascata da Vinha aproveitei para fazer silêncio, escutar a natureza, sentir a frescura da sombra da montanha e dar ao corpo o merecido descanso.
Da Cascata ao Lugarejo da Vinha
Saí da Cascata da Vinha sem vontade de fazer o caminho para trás, imaginando que a descida seria dolorosa. Dirigi-me então ao lugarejo da Vinha, mesmo desconhecendo o caminho adiante.
O sol estava radiante, o que realçava ainda mais os incríveis tons de verde do Vale do Xoxô. Impressionante! Pese embora o Trilho da Cruzinha e o Trilho do Paul já tenham sido fantásticos, as vistas aqui conseguiram diferenciar-se e ainda assim surpreender.
Chegada à Vinha, um lugar com umas poucas de casas, vejo um conjunto de jovens-adultos a reparar um telhado de palha. Estava parada a observá-los quando fui interpelada pelo Sr. António que me explica que aqueles são todos rapazes do lugar da Vinha que vieram ajudar a melhorar o seu telhado, em troca do almoço. “Aqui só se pode chegar a pé… ou de burro, para quem os tem. Temos que nos ajudar uns aos outros”.
Convida-nos a sentar um pouco e, com um gosto genuíno, a entrar em sua casa. Hesitantes mas curiosas, assentimos ao convite e lá nos sentámos por instantes num sofá de uma sala muito arranjadinha, daquelas onde parecem entrar apenas os convidados. A pouca luz que aí deixavam entrar dava-lhe a frescura de que precisávamos e que ficámos a aproveitar por instantes. Fomos interrompidas pela Dona Marcelina, esposa do Sr. António, que nos convidou desta feita a descer à cozinha para beber um sumo de papaia que aceitamos de bom grado.
Aí encontrámos um guia cabo-verdiano e dois alemães a almoçar e percebemos que numa próxima oportunidade poderíamos combinar com ela para aí comer alguma coisa. Encaminha-nos a seguir para uma varandinha, aquilo que parecia ser o seu lugar favorito, e logo entendo porquê. Também seria o meu se ali vivesse! Um terraço com uma vista panorâmica incrível para os dois lados do Vale do Xoxô. Ainda eu nem tinha conseguido tirar fotografias à paisagem, já a Dona Marcelina tirava bananas de um bidão e entregava-nos sem dar hipótese de recusar “Estão aqui a amadurecer. Levem para o caminho”. Ai de nós que não aceitássemos!
Regresso a Ribeira Grande
Despedimo-nos com uma fotografia dos quatro e esperançosos até breves e segui caminho. Mais um quilómetro e chegava à estrada principal para Ribeira Grande, onde se encontra o Restaurante Melícia. Em frente há um grande tanque onde algumas pessoas, entre estrangeiros e locais, se banhavam.
Até este ponto tinha caminhado 3 horas num total de 6 km, aquilo que contava fazer naquele dia… mas ainda faltava o caminho até à Ribeira Grande, que seriam outros 6 km. As esplêndidas vistas da manhã já me tinham enchido as medidas e, por isso, não achei que fazer o restante caminho a pé pela estrada fosse acrescentar muito ao que já tinha vivido nas primeiras horas da caminhada. Apanhei então o primeiro coletivo que passou em direção a Ribeira Grande.
Algumas notas sobre o Trilho do Xoxô à Cascata da Vinha
Em alternativa ao Trilho da Cascata da Vinha desde o Xoxô tinha planeado fazer o Trilho Pinhão – Lombo Branco – Sinagoga, de 7 km, mas sabia de antemão que seria um trilho de elevada dificuldade, então por isso optei pelo Xoxô. Não sei como seria o do Pinhão, mas o do Xoxô também não foi um trilho fácil, especialmente depois de já ter feito o Trilho do Paul e o Trilho da Cruzinha nos dias anteriores.
Não obstante, valeu muito a pena e, para os amantes de caminhadas e natureza, recomendo qualquer um dos três trilhos para fazer em Santo Antão!
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Dicas para o Trilho do Xoxô
- Usar um bom calçado próprio para caminhada e para um terreno irregular e acidentado;
- Levar água e alguns snacks (barras energéticas, fruta, frutos secos);
- Se gostas de mergulhar, leva roupa de banho e faz o desvio para te refrescares na Cascata da Vinha ou no tanque junto ao Restaurante Melícia;
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