Na década de 70, a par da tão conhecida Guerra do Vietname, existiu também a Guerra Secreta do Camboja desconhecida por muitos. Tudo começou quando, descontentes com a influência dos Estados Unidos no país, em 1970, os Khmers Vermelhos lutaram contra o governo do Camboja encetando uma guerra civil que durou cinco anos.
Durante este período, os Estados Unidos lançaram mais bombas no Camboja do que em toda a Segunda Guerra Mundial, acabando com a vida de milhares de cambojanos… mas durante muito tempo ninguém ouviu falar disto. Por estar tão abafada na história, um pouco camuflada pela Guerra do Vietname, é que esta tomou o nome de Guerra Secreta do Camboja.
Apoiados de forma generalizada pela população khmer, a 17 de abril de 1975, os Khmers Vermelhos acabaram por triunfar, instalando um governo comunista no país que se passou a chamar Kampuchea Democrática. Neste dia, na capital, milhares de pessoas receberam os Khmers Vermelhos com alegria. Depois de vários anos de conflito e de injustiças originados pelos Estados Unidos, estas pessoas viram no comunismo uma oportunidade de vida melhor, mais justa e mais igualitária. No entanto, o ideal comunista era apenas um disfarce para que alguns alcançassem o poder.
No mesmo dia, os Khmers Vermelhos evacuaram todas estas pessoas da cidade. Alegaram ser mais seguro viverem nas zonas rurais e obrigaram-nas a deixar para trás as suas casas, todos os seus pertences… assim como as suas famílias. No espaço de algumas horas, estas pessoas sentiram o sabor da alegria da vitória e esperança de um futuro melhor, e o sabor da traição, incompreensão e tristeza do partir.
Desde este dia e durante cerca de três anos, o horror foi vivido pela população cambojana. O novo governo esvaziou as cidades migrando toda a população para as zonas rurais, submetendo-a a regimes de trabalhos forçados, durante muitas horas seguidas com o mínimo de comida e de descanso. Além disso, fecharam-se hospitais, bibliotecas e escolas, e foi abolida a propriedade privada e os salários. Perseguiram-se minorias étnicas, intelectuais, professores, artistas, médicos, assim como todos aqueles que o governo considerasse como contrários ou perigosos para a sua ideologia.
O resultado destas perseguições e de todo este regime opressivo foi o genocídio de cerca de 2 milhões de pessoas… sim, um quarto da população do Camboja! Sim, isto aconteceu há apenas 40 anos atrás!
Em Phnom Penh visitámos a prisão S21, que outrora era uma escola mas que se tornou entretanto a primeira paragem dos muitos homens, mulheres e crianças que, ao engano, pensavam que iam para uma casa melhor. Aqui, antes de serem interrogados, eram colocados em celas às dezenas, presos em filas pelos pés.
Depois, sem sequer saberem o porquê de ali estarem, seguiam para interrogatório, onde eram forçados a fazer depoimentos falsos, antes de serem torturados. Também alguns integrantes do partido que, entretanto, não se reviam nas atrocidades que o regime estava a levar a cabo, foram feitos prisioneiros ou até mortos.
Depois da prisão, os milhares de pessoas inofensivas e inocentes apenas tinham um destino: o campo de concentração Choeung Ek. Visitamos também este lugar… um lugar aparentemente calmo e verdejante, onde em tempos tantos perderam a vida das formas mais atrozes.
Foi o dia em que conhecemos a abafada Guerra Secreta do Camboja, que se tornou um dia pesado pela visita à prisão e ao campo de concentração. Um dia em que aprendemos imenso, infelizmente. Um dia de questões e de sentimentos de revolta e frustração.
Foi também o dia em que compreendemos o Camboja… agora compreendemos o baixo desenvolvimento do país e as fracas infraestruturas. Afinal, grande parte foi destruída há quatro décadas atrás. E pior… uma quarta parte da população também desapareceu. Como reerguer um país do zero e com menos 2 milhões de vidas?
Agora sim, compreendemos o Camboja e levamo-lo ainda mais no coração.
Sejamos mais humanos, vejamos o outro como igual e, se queremos mudar algo, pensemos em revoluções não armadas. A verdadeira revolução é cultural, feita de forma pacífica, dando a conhecer as boas alternativas que existem, educando nesse sentido mas nunca esquecendo que cada um é livre e pode ter vontades diferentes.
Façam o favor de ser felizes!
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