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Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha em Santo Antão

Pessoa a caminhar num trilho de paisagem de montanha verde ao fundo ao pé do mar, em Santo Antão, Cabo Verde.

O Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha situa-se na parte norte da Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, e é dos principais motivos para visitar este pedaço de terra africano em pleno Atlântico. As paisagens ao longo dos 15,5km de caminho que separam estas duas localidades são arrebatadoras e surpreendem a cada passo os intrépidos caminhantes.

Percorri-o no meu primeiro dia na ilha, chegada de São Vicente e, embora tenha feito posteriormente o Trilho do Vale do Paúl e o Trilho do Xôxô, o Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha continua a ser o meu favorito em Santo Antão.

Neste artigo conto como foi este dia de caminhada magnífico assim como as várias partes do trajeto, e partilho as minhas recomendações e dicas para quem quer fazer o Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha.

Caminho em pedra com a aldeia de Ponta do Sol ao fundo junto ao mar
Duas pessoas a sorrir no início da caminhada em Ponta do Sol
Escarpa de montanha em Santo Antão, Cabo Verde

Início do trilho em Ponta do Sol

Saí às 8h30m de Ponta do Sol, acompanhada da minha mãe e cheia de energia e vontade de calcorrear as montanhas de Santo Antão. Seria o meu primeiro trilho nesta ilha de montanhoso relevo que me levaria de picos imponentes a vales profundos.

Pelo cemitério de Ponta do Sol tinha de começar e para aí me dirigi, contornando-o pela direita e encarando, de repente, aquilo que me esperava nas próximas horas: um caminho serpenteante a recortar a montanha que tomba em direção ao azul do mar.

Feita a primeira reta, encontro à direita as pocilgas comunitárias de Ponta do Sol, uma importante iniciativa para um desenvolvimento mais sustentável da suinicultura no município, ao combinar tradição e inovação.

Paisagem de escarpa com uma vila ao fundo e o mar à esquerda.
Vista sobre as pocilgas de Ponta do Sol

Depois de contornar por cima esta área de pequenos quadrados preenchidos com os robustos e rosados animais, mesmo antes de cruzar a montanha, olho para trás uma última vez. A vila de Ponta do Sol mostra-se agora soalheira atestando o motivo desta denominação: é um dos primeiros pontos da ilha de Santo Antão a ser tocado pelos raios solares ao amanhecer. E que beleza de raiar abraçado pelo infinito do mar!

Os primeiros quilómetros foram árduos, fazendo-me questionar se seria porque os músculos ainda estavam a aquecer ou pelo desnível da subida. Nesta fase ainda me fui cruzando com alguns habitantes locais, no sentido contrário, com ar de quem iam a caminho do trabalho. Trocam-se os bons dias fugazes e os sorrisos tímidos, saudações que vão escasseando com o cada vez mais reduzido encontro com transeuntes à medida que a distância à vila de Ponta do Sol aumenta.

Montanha com uma palmeira.
Carrinha a subir montanha em tons de verde e castanho.

Além de cabo-verdianos, vira vários caminhantes como nós, uns acompanhados de guias locais e em grupos, outros mais solitários e independentes. Com estes fui travando conversas aparentemente despretensiosas, mas que escondiam uma intenção: encontrar com quem dividir o táxi que iriamos apanhar desde o final do trilho, na Cruzinha, de regresso à Ponta do Sol.

Porém, fui percebendo que todos tínhamos em comum o gosto pela caminhada, mas que divergíamos no trajeto escolhido para este dia, tal é a variedade de possibilidades: uns iriam mais longe, até Chã da Igreja, outros fariam metade do trilho e regressariam pelo mesmo caminho ao seu início, outros ficariam na Cruzinha… Ao fim de uma dúzia de conversas travadas, sem frutos a não ser o de conhecer vagamente alguns caminhantes, conformei-me com a ideia de pagar o valor total do táxi.

Casas de Fontaínhas espalhadas pela montanha

A colorida aldeia das Fontaínhas

Ao fazer uma apertada curva de montanha onde alguns homens arranjavam a estrada, deparei-me inesperadamente com pinceladas de amarelos, vermelhos e azuis, a quebrar os regulares tons verdes das paisagens de Santo Antão. Era Fontainhas, pequena aldeia de casas às cores onde vi somente um habitante. Embora algumas casas parecessem habitadas, permanecia o silêncio da montanha, recortado apenas pelas ondas do mar ao fundo.

Aldeia das Fontainhas colorida na montanha.
Duas mulheres e um homem a sorrir com a paisagem de montanha ao fundo.
Setas indicativas das aldeias do Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha, junto a pessoa a caminhar.

Aí conheci o Sr. Francisco Chay que, ao perceber que somos portuguesas, fez questão de parar para conversar. É mecânico, já trabalhou em vários países da Europa e, claro, em Portugal também. Coimbra e Torres Vedras ficaram na sua memória. Trabalha agora na Câmara Municipal de Ponta do Sol, tinha ido nessa manhã ver uma terra a Fontainhas e já ia – a pé claro – de regresso ao seu ofício.

Via Sacra até às Formiguinhas

Depois de Fontainhas é que foram elas! Sempre a subir em direção àquela parede, obra da natureza, mesmo lá em cima. Trespassá-la e, a seguir, sempre a descer até ao Corvo, no fundo do vale.

Pessoa a subir trilho de montanha.
Trilho serpenteante e íngreme pela montanha em Santo Antão.

Ao fazer-se o trilho no sentido da Ponta do Sol à Cruzinha, as inscrições em pedra que marcam as 14 estações da Via Sacra, estão invertidas, para nossa satisfação. A descer já é tamanho suplício para as pernas que prefiro afastar o pensamento de como será fazer o percurso ao contrário (da Cruzinha à Ponta do Sol) e trepar uma parede ainda mais íngreme do que a que tinha galgado, com esforço, minutos antes.

Já as unhas dos pés e os joelhos gemiam quando cheguei ao Corvo, onde troquei impressões com um guia local acompanhado de dois viajantes nórdicos de alguma idade. Iam só até Formiguinhas… mas voltariam para trás, pois de lá não há saída possível que não seja a pé. “Vão voltar e subir isto?” perguntei espantada com tamanha coragem.

Pessoas a caminhar em direção à aldeia do Corvo.
Descida do trilho em direção ao mar.

Disse-me o jovem rapaz que faz tours completos por várias ilhas de Cabo Verde. “Numa próxima têm de combinar as Ilhas de Santiago e Fogo”, recomenda-nos falando-nos dos vulcões, das paisagens lunares e da identidade forte destas ilhas. E assim se juntou mais uma promessa de aventura à nossa lista, já não pequena.

Perguntei-lhe ainda se a aldeia do Corvo estava desabitada, pois não se via vivalma, ao que me respondeu que não, mas que restam apenas alguns idosos. “Os recursos aqui são limitados e os jovens fugiram para as cidades”. Parece que a desertificação das zonas rurais é uma realidade global e chega também a Santo Antão. Restou-me desejar-lhes um sincero boa sorte e seguir o meu trilho.

Casas de aldeia no meio da montanha em Santo Antão.

Repor energias com um almoço em Formiguinhas

Chegada às Formiguinhas, aldeia de uma dúzia de casas enfileiradas ao longo do caminho, estava a pouco menos de meio do trilho e o corpo já pedia algum descanso e energia. Desconhecendo o que haveria no percurso, viemos prevenidas com umas sandes preparadas pelo alojamento em Ponta do Sol por 5€, mas percebemos ao ali chegar que existem dois pequenos estabelecimentos a servir almoços aos viandantes (o Café Isabel e o Café Sónia).

Rua com um café na aldeia das Formiguinhas no Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha, em Santo Antão.

No pequeno largo de Formiguinhas, a minha mãe sentada na ponta do único banco de jardim, e eu no muro, ambas a aproveitar a escassa sombra, pois o sol já se fazia alto e o calor apertava. Depois da sandes mista com ovo, um sumo e uma fruta, faltava-nos o café e fomos então espreitar o Café Isabel, onde reconheci várias caras que havia visto durante a manhã. Trouxeram-nos uma termos grande e duas canecas para nos servirmos “Aqui está, café da avó” – diz-nos a Isabel.

Setas indicativas do Trilho do Ponto do Sol à Cruzinha, em Santo Antão, Cabo Verde.
Paisagem de escarpa íngreme de montanha à direita e mar à esquerda.
Pessoa a caminhar junto ao mar e pedra com indicação de caminho correto.

Junto ao mar até à Cruzinha

De Formiguinhas à Cruzinha o trilho é quase sempre à beira-mar, virado a norte. Há algumas subidas e descidas, mas não tão acentuadas como na primeira metade da caminhada. O mais importante nesta parte é não esquecer de ir olhando também para trás – os gigantes montanhosos surpreendem e a beleza das paisagens é indescritível!

Sabia que chegaria a uma aldeia em tempos chamada Chã de Mar, esta sim agora abandonada, e foi quando o meu olhar recaiu sobre aquelas ruínas que me deparei com o cenário mais bonito do dia. Uma aura bucólica de habitações um dia ocupadas por famílias santantonenses, cujas estruturas em pedra gastas escondem histórias jamais conhecidas.

Caminho em pedra em direção a montanha verde e mar ao fundo.
Caminho ascendente por montanha verde e castanha.

Desci devagar, para engolir com tempo aquelas vistas… mas também para adiar a subida que já via mais adiante. A esta altura já tinha entendido a dinâmica da topografia do Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha: a cada aldeia, logicamente instalada num vale, antecede uma descida… por isso há que prever a subida que lhe sucede.

Ao percorrer a ladeira do lado de cá de Chã de Mar tive a certeza de que estava a fazer o trilho no sentido mais certo, pois as vistas de frente, no sentido Ponta do Sol – Cruzinha, são mais impactantes do que o oposto.

Mais adiante, a partir da Praia das Aranhas, as paisagens viçosas dão lugar à aridez das planícies onde as sombras escasseiam até à Cruzinha a 2,5km.

Praia abaixo da montanha co mar azul a esquerda.

Um brinde à chegada à Cruzinha

Nos últimos 500 metros antes da Cruzinha o trilho não é muito claro, bifurcando-se em vários caminhos arenosos. Todos vão dar à aldeia e eu entrei pela parte de cima, descendo entre casas com pátios de cimento e onde a roupa a secar dava sinais de existência humana, confirmando-se mais abaixo com alguns carros estacionados, pequenos negócios locais e laterais de casas com painéis alegóricos às gentes e características de Santo Antão.

Caminho arenoso com paisagem verde à frente.
Centro de Cruzinha com um burro, um carro, pessoas e um painel pintado.

Não parei senão no Sonafish Restaurante, ponto de encontro combinado com o taxista para nos levar de volta a Ponta do Sol. Mas devo confessar que a razão principal que me fez ir aí direta, foi procurar uma cerveja fresquinha para brindar com a minha mãe ao final do trilho. Eram 15h e tínhamos demorado cerca de 6 horas a percorrer os 15,5km de Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha. Acompanhámos a bebida com uns amendoins e o momento com uma vista privilegiada sobre o mar prata, agora de um brilho especial de objetivo cumprido.

Duas cervejas a brindar e um prato de amendoins abaixo.
À esquerda o mar, à direita um largo da aldeia de Cruzinha com um painel pintado de duas pessoas.

Não fosse termos o motorista Gila à nossa espera, teria aí almoçado uma segunda vez, pois espreitei uma lagosta com tão bom aspeto na mesa ao lado que até me fez fome. É uma opção para quem quiser repor energias antes do regresso.

Regresso a Ponta do Sol

Gila fora contratado previamente por 4000 escudos cabo-verdianos através do nosso alojamento em Ponta do Sol e tinha unicamente a tarefa de nos levar de volta ao ponto inicial, numa viagem de cerca de 1 hora. Mas como manda a morabeza cabo-verdiana, ele foi além do seu dever. Parou primeiro em Chã da Igreja para darmos uma voltinha no largo principal – o da igreja, e espeitarmos o interior de paredes brancas e uma simplicidade nas figuras a que não estamos habituados.

Largo de aldeia com um pequeno estabelecimento ao meio.
Duas pessoas a sorrir junto a vale iluminado pelo sol

No topo de Ribeira da Graça, saímos do carro para uma vista ampla e esplendorosa sobre as montanhas salpicadas de inúmeras flores da cana-de-açúcar, agitadas por um vento leve que soprava do lado do mar. E parámos ainda no Aqueduto de Santo Antão ou Ponte Canal, estrutura da década de 50, recentemente reabilitada, que desde aí desempenha um papel importante no abastecimento de água da região.

Vista de baixo para o aqueduto de santo Antão.
Paisagem verdejante com uma casa vermelha à esquerda.

Instigado pelas perguntas curiosas da minha mãe, Gila falou-nos todo o caminho acerca do modo de vida em Santo Antão. Num instante pôs-nos em Ponta do Sol e ainda nos brindou com uma fruta-pão para mais tarde.

Como fazer o Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha

O Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha é linear e tem cerca de 15,5km. Mas há várias opções de sentidos e trechos para fazer este trilho:

  1. A opção que conto aqui neste artigo: ficar alojado em Ponta do Sol, caminhar daí até à Cruzinha ou até Chã da Igreja (são mais 2,7km essencialmente a subir) e regressar a Ponta do Sol de táxi.
  2. Ir de transporte coletivo da Ponta do Sol para Ribeira Grande e aí apanhar outro para a Cruzinha. Este último só há um por volta das 11h, o que implica começar a caminhar depois das 12h e fazer os 15km durante a tarde, no sentido oposto ao que eu fiz, até Ponta do Sol. Atenção à hora do por do sol, para evitar caminhar de noite.
  3. Ir no dia anterior de transporte coletivo para Chã da Igreja, passar aí a noite para começar os 18km até Ponta do Sol logo de manhã. Pelo que percebi, para quem quer pernoitar, Chã da Igreja tem mais ofertas de alojamentos do que a Cruzinha e tem a facilidade de ter mais coletivos a sair durante o dia para Ribeira Grande. Nesta opção, deves levar o mínimo essencial para uma noite, evitando demasiado peso na mochila para a caminhada do dia seguinte.
  4. Fazer aquilo que eu fiz (opção 1), mais os 2,7km até Chã da Igreja, levando os essenciais para aí pernoitar, regressando a Ponta do Sol na manhã seguinte.
  5. Apanhar um táxi da Ponta do Sol para a aldeia das Fontainhas e iniciar aí o trilho até à Cruzinha. Assim, serão menos 3km. A partir das Fontainhas até à Cruzinha não há mais como atalhar, só se percorre a pé.
Painel informativo do Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha, em Santo Antão, Cabo Verde.

Dicas para o trilho da Ponta do Sol à Cruzinha

  • Usar um bom calçado próprio para caminhada e para um terreno irregular e acidentado;
  • Levar bastante água e pelo menos alguns snacks (barras energéticas, fruta, frutos secos) pois quase não há estabelecimentos onde comprar comida ao longo do trilho;
  • Em Formiguinhas há dois pequenos restaurantes onde almoçar;
  • O serviço de táxi da Cruzinha à Ponta do Sol foi contratado previamente por 4000 escudos cabo-verdianos. No entanto, pouco antes de chegar à Cruzinha, vi vários táxis a oferecer serviços de transporte para Ribeira Grande ou Ponta do Sol, o que significa que não precisava de ter combinado o táxi antes, além de que ali pareciam estar mais disponíveis para negociar o preço do que com o serviço pré-contratado;
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Calçado de caminhada
Estrada em pedra e carro vermelho à direita.

Como chegar a Ponta do Sol

Para chegar a Ponta do Sol a partir de Ribeira Grande é muito fácil pois há transportes coletivos (vans partilhadas com cerca de 11 lugares) a sair regularmente por apenas 70 escudos cabo-verdianos por pessoa, pagos diretamente ao motorista. Se vieres do Paúl (ou Cidade das Pombas), o mais certo será teres de trocar de coletivo em Ribeira Grande.

Existem coletivos também a vir diretos desde o Porto Novo até à Ponta do Sol. À saída do porto, após a chegada de um ferry da Ilha de São Vicente, é fácil encontrá-los. O preço do trajeto em transporte coletivo de Porto Novo até à Ponta do Sol é de 500 escudos por pessoa.

Vista de varanda sobra vila com casas, uma igreja e mar ao fundo.
Passeio junto ao mar com barcos à direita.

Onde ficar em Ponta do Sol

Eu fiquei alojada na Casa BB&Djassi onde o quarto no último piso tinha uma boa vista sobre Ponta do Sol, o pequeno-almoço era completo e as funcionárias muito simpáticas, assim como o Djassi, dono da guesthouse. Neste estilo familiar, recomendaram-me também a Casa Celeste e a Casa D’Mar, mas se preferires um hotel mais tradicional há o Tiduca Hotel.

Mar azul a bater em rochas.

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