O que é e como é Thabarwa?
Apesar de se chamar um mosteiro e ter sido criado por monges, Thabarwa funciona como uma comunidade numa aldeia aberta, alojando atualmente mais de 3400 pessoas. Monges, voluntários locais, voluntários estrangeiros e todos os que podem dar um bocadinho do seu tempo trabalham para conseguir comida, teto e cuidados médicos – condições de vida básicas que, com possibilidades económicas muito baixas ou nulas, dificilmente estas pessoas conseguiriam fora de Thabarwa.
O espaço não é muito e tem de ser partilhado. Além disso, as condições em todo o centro são realmente muito básicas comparadas com qualquer hospital, lar ou simples casas do Ocidente. Os hospitais e locais para idosos são meras salas abertas, que albergam cerca de 50 pessoas em camas verdadeiras ou improvisadas com apenas num cobertor no chão.
E é aí que as pessoas moram permanentemente… não é só de passagem. Muitas delas não conseguem sequer sair da cama, por isso fazem toda a sua vida ali, num espaço de 2-3 metros quadrados. Algumas lá conseguem eventualmente ir às latrinas do lado de fora e aos banhos de balde nos tanques. À sua volta têm apenas o essencial: um saco com meia dúzia de mudas de roupa, um prato, um copo e pouco mais.
Com tanta gente por quem olhar, a vida em Thabarwa não pára. Há que recolher, preparar e distribuir comida a todos, tratar ferimentos, trocar fraldas e penicos, lavar pacientes, fazê-los mexer um pouco, dar-lhes um sorriso… e meditar.
A meditação em Thabarwa
Sendo um centro de meditação, Thabarwa incentiva todos a meditar, havendo horas e espaços onde todos o podem fazer. Por exemplo, em cada hospital há determinadas horas do dia em que alguém lá vai praticar meditação com os pacientes. Cada um com as suas limitações e condições, mas no geral, todos o fazem.
Na verdade, a meditação funciona aqui como o principal tratamento, não no sentido de cura, até porque, na maioria dos casos, as escassas condições e os cuidados médicos limitados fazem com que a cura seja impossível. Contudo, a meditação aparece aqui como um meio para que através do exercício de controlo da própria mente (o chamado mindfulness), todos sejam capazes de aceitar e lidar da melhor forma possível com a realidade.
O que fizemos nesta experiência de voluntariado?
Quanto a nós, inserimo-nos no grupo de voluntários estrangeiros que se gerem a si próprios. Estes apoiam os voluntários locais permanentes ao encarregar-se de algumas das suas tarefas, mas também criando novos projetos para o centro.
Para isso, realiza-se diariamente uma reunião de voluntários onde se faz a avaliação do dia e onde cada um decide as atividades que quer fazer no dia seguinte. No entanto, parte de cada um decidir se quer ajudar e de que forma o quer fazer.
Logo no dia em que chegámos, juntámo-nos à chamada pagoda party: levar pacientes em cadeiras de rodas num passeio até um pagode próximo onde podem meditar um pouco. Uma atividade simples que os pacientes adoram pois têm oportunidade de finalmente sair um pouco do espaço limitado onde passam os seus dias.
No dia seguinte juntámo-nos a duas das atividades mais desafiantes. De manhã, fomos cuidar das feridas de pacientes, claro que sempre acompanhados por um dos voluntários mais experientes e sempre devidamente protegidos. Uns casos são mais fáceis e outros mais difíceis de lidar. No entanto, os cuidados médicos são básicos e só quando há voluntários ligados à área da saúde é que é possível realizar tratamentos mais específicos, porém limitados pelos escassos recursos.
À tarde, fomos dar banho a pacientes: mudá-los das suas camas para cadeiras de rodas, trazê-los para fora, despi-los em plena rua e, com baldes, lavá-los o melhor que conseguimos. Para alguns deles é uma alegria… pedem mais água para os refrescar daquele calor intenso e depois de vários dias sem tomar banho. No entanto, alguns deles já nem têm plena consciência para desfrutar daquele momento… e assistir a isso tão de perto partiu-nos o coração.
É também prática diária em Thabarwa a recolha das almas. Todos os dias bem cedo os monges vão pelos arredores de Yangon recolher a comida e os donativos que alimentam o centro.
Em duas das manhãs juntámo-nos a esta prática. Às 7 horas estávamos descalços, prontos para sair. Sim, a recolha das almas faz-se de pés descalços por tradição… e a maior ou menor facilidade das ruas por onde se passa é uma questão de sorte.
Da primeira vez, tivemos o azar de quase todo o caminho ser praticamente em gravilha. Da segunda vez tivemos o azar de todo o caminho ser em lixo e lama. No entanto, achámos esta atividade mesmo muito interessante, até que a repetimos!
Foi interessante ver como é que esta tradição comum em todo o sudeste asiático se processa e participar nela. Além disso, foi ainda surpreendente ver que muitas famílias, com melhores ou piores condições, ao ouvir o anunciar da recolha, saem das suas casas e oferecem aquilo que podem. Foi também interessante para nós ver de onde vem toda a comida e donativos que alimenta a comunidade de Thabarwa.
Em duas das tardes demos ainda aulas de inglês às crianças da aldeia o que foi muito engraçado.
Não existe propriamente uma turma… na verdade, o que acontece é que pelo caminho até à sala improvisada, os voluntários vão pelas ruas chamando as crianças para se juntarem à aula de inglês. Assim, aos pouquinhos, vai-se formando o grupinho para a aula do dia. Uma hora de divertimento e alegria assim como de muita vontade de aprender.
Para além destas atividades, existiam também outras como a fisioterapia, o “Make Them Move” – uma atividade para fazer os pacientes mexer e exercitar num ambiente divertido e de descontracção, e ainda a preparação do jantar para todos os voluntários. Em suma, não faltava o que fazer!
O que levamos desta experiência?
Também nós levamos muito desta experiência! Tivemos oportunidade de aprender birmanês com o Ismael, um dos pacientes do centro que falava um pouco de inglês, de quem nós gostámos especialmente. As aulas eram sempre muito engraçadas, com o Ismael sempre a demonstrar-nos em alto som a pronúncia birmanesa. Além de ter sido muito divertido, aprendemos imenso, o que nos foi útil nos restantes dias no Myanmar.
Algumas horas na biblioteca do centro e as sessões de meditação guiada fizeram-nos também aprender mais sobre esta prática de que descobrimos que agora procuramos encaixar no nosso dia-a-dia.
Foram sete dias muito intensos! Desde o choque das primeiras horas ao não termos vontade de lá sair. O convívio com os outros voluntários e com os locais, todas as atividades com os doentes, idosos e crianças, o carinho das pessoas, o tempo para nós próprios, o viver naquelas condições básicas e o desapego… em suma, memórias que não iremos esquecer e que fizeram desta uma das semanas mais marcantes de toda esta viagem ?
Deixamo-vos algumas fotografias, ainda que poucas. Não nos era conveniente andar com a câmara atrás e, nas tarefas a que nos propusemos, não nos pareceu apropriado tirar fotos. No entanto, partilhamos também convosco o site do serviço de voluntariado presente no centro, onde podem encontrar mais imagens e outras informações: www.thabarwavolunteering.com
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